terça-feira, 12 de abril de 2011

Eu ia.

Com uma mão segurava os pensamentos e com a outra escrevia; Não queria deixar passar nem um sentimento nesta noite fria. Lembrava do teu sorriso e logo escrevia. Lembrava do teu cheiro e transformava em melodia. Pensava como seria, se um dia pudesse te mostrar isto que fazia... E ia. E ia. E o rima fluia, E pela cadeira escorria, Pensando como viria a chance de te dizer tudo que sentia. Então sem precedentes escrevia, me lançando como mensagens de texto de um celular... Esperava sua resposta, qualquer uma que fosse, Esperando que me dissesse quão tolo eu fui enquanto me escondia. Pensava se me amava, pensava se não; Curioso do que viria, sonhava que seria aquilo que queria... E assim eu ia. e ia. e ia. e ia...

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Crônicas de um palhaço sem graça - 6º Episódio




Ele tinha muitas coisas para dizer.

Como numa nascente de rio as palavras brotavam como sua saliva, de maneira abundante e ininterrupta. Era tanto que de tempos em tempos ele cuspia pela janela do ônibus, que estava lotado como todos os ônibus de uma cidade grande no retirar-se do sol, verbos, sujeitos, adjetivos e predicados. Fim de tarde. Seus pensamentos corriam mais rápidos que as árvores mudas e desfocadas ultrapassadas pelo coletivo ao longo de seu percurso.

Se sentia invadido.

Seu espaço vital era engolfado pelo aglomerado de pessoas, se é que nessa situação ainda sentiam-se assim. Já tinha algum tempo que ele se sentia estranho, talvez estranhando uma delimitação nova e ameaçadora do que já era conhecido, que diante do contexto mostrava-se ainda mais frágil, o que provavelmente o fazia sentir como nunca antes essa invasão. Os outros corpos transitavam esbarravam sem autorização o seu e isso causava angústia. Não tinha nem uma música pra distrair a percepção...

Se sentia Estrangulado.

Enquanto isso suas palavras ainda brotavam e conversavam entre si. Elas se entrelaçavam e davam-se nós levando-o em vários momentos a mergulhar num súbito sufocamento sensorial onde ele encontrava um outro mundo, um mundo estritamente semântico. Eram tantas as possibilidades que as palavras não o conduziam para lugar algum, o que elas faziam era torná-lo refém da indefinição, da insegurança e da incerteza. Só acordava de volta quando outra vez alguém sem cara se esbarrava nele, alguém proveniente da multidão invasora.

Se sentia incomodado.

Estes esbarrões incomodavam. Invadiam. Mas o incomodo real surgia devido à lembrança que estes contatos lhe proporcionavam. Eles lembravam-lhe que neste momento todas estas palavras de nada serviam. O silêncio valia ouro e seu gosto era de palavras mortas. Sentia o gosto de suas palavras como nunca antes. Tinha vontade de saborear o dissabor que lhe causavam. Era estranho esse movimento. Sempre teve predileção pelos sabores agradáveis de si, mastigados e expostos de maneira abundante, através de enormes bolas de chiclete Adams sorridentes e coloridos de tempos atrás...

Se sentia silenciado.

O silêncio se fazia cada vez mais presente e necessário, afinal sentia que o momento era de saborear, mastigar e engolir a morte de suas frases e orações. Tentou adquirir novas palavras e frases no livro que trazia em sua bolsa, mas o próprio livro falava da morte e renascimento do que se era dito. Maldita Clarice. Outro esbarrão. Incomodo. Angústia.

Se sentia um pouco aliviado.

Chegou o seu ponto. Desceu e caminhou pela rua sem olhar para trás.