Quem me dera que todos os dias eu pudesse correr por entre os pensamentos livres e escapulidos das bocas, mesmo as mais tímidas, mesmo as mais inquietas, mesmo as mais incisivas e ainda sim encontrasse ouvidos atentos e com sede destas palavras, que os olhares continuassem a procurar os sentimentos dentro dos “pra mim...”, “Eu Acho...”, “Eu Acredito...”, “Eu vi Assim...” e que estes continuassem a viverem estes mínimos momentos de serem eles mesmos, assumindo que os são... Que as brincadeiras de pega-pega não buscassem só passar o pega, mas que buscassem também o contato da sua mão suada de ansiedade com a pele grudenta de suor daquele que foge desta mão, que quando neste milésimo de segundo que este momento durasse o toque fosse real, fosse vivido, fosse experiência consciente de pegar o outro e passar a este outro a chance de pegar mais alguém. E seguir esta brincadeira, ouvir risos, ver o céu se abrir e continuar a correr ao encontro, aos encontros... Que Pena que algumas pessoas acabam correndo tanto que esquecem por que estavam correndo, que começam a empurrar e se esbarrar com os outros, através de sua ânsia pelo correr, mesmo que sem por que, visto que, a essa altura do campeonato me parece que eles já fugiram a brincadeira... Então deixam de ouvir as gargalhadas, passam ouvindo sussurros de risos, pequenos detalhes passam despercebidos, os contatos acabam se tornando grosseiros e sem contexto, sem pretexto. Assim sem perceber os esbarrões são cada vez mais agressivos e raros, são cada vez mais estranhos e dolorosos, e cada vez menos percebem-se perto da brincadeira que faziam parte desde o momento que se conceberam como gente. Que Bom que encontrei-me dentro dessa brincadeira, que bom que percebi que cada vez mais eu estava perto de quem estava pegando e que eu quando menos percebi estava pegando também, estava rindo, estava, estava lá, estava aqui, estava acolá, estava de verdade! Corria, com a leveza de quem corre da chuva, com o sorriso de quem vai encontrar o tesouro no fim do arco-íris. Quantas vezes meus olhos brilharam ao ver que tinham me passado o pega, que eu é quem tinha que passá-la, então corria mais, e tocava o outro, e o ciclo continuava, eu tocava alguém, alguém me tocava também e riamos até encher os olhos de brilho, íamos continuávamos. Claro que as pedras existiam, e existem, tomamos topadas as vezes até ferimos o dedo feio, mais quando isso acontece alguém nos acolhe a brincadeira dá “dois altos” pra que venham me olhar, e eu me sentia olhado...sem duvidas, existiam divergências de quem pegava?! Às vezes mas nada que olhares e que repassasse o pega pra recomeçar a nossa brincadeira... e assim seguíamos, a brincadeira, o correr, os corpos, a dança...Nada que um pega-pega não resolva não é?!
4 comentários:
E a gente faz isso na vida né? correr desesperadamente meio sem saber o porque? sem aproveitar os sopros de vento que só o caminhar tranquilo poderia proporcionar. Isso é uma pena mesmo...
Eu gosto é de olhar os risos, sentir o toque do outro, tocar tb...
maravilhoso, vei!
sério, boa metáfora.
abração (ou, melhor, te peguei)
vei, você foi fundo aí viu?
realmente, você conseguiu trazer da tão simples brincadeira a essência do que são os relacionamentos, nego...
brincadeira de pegar pode até ser perigosa (lembro de minha mãe chamando atenção pra não sair desbandeirado em busca de alguém pra pegar e topar topadas, escorregões, cair, ficar com marcas, cicatrizes...) mas é o que nos anima... a vontade de pegar e ser tocado. De passar a vez, ser um e outro.
Você me pegou véi, vou atrás de alguém pra passar a vez...
extenso, e enganador...a priguça nos trai, mas uma vez iniciada a leitura nos a traimos mais..
bons textos
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